SE UM DIA ACONTECER
Quando abri a carta, a primeira coisa que percebi foi o desenho no papel. Uma borboleta, meio disforme, como se estivesse esmagada... Tá certo que era toda preta... Não tinha muitos detalhes, mas ainda assim, para mim era uma borboleta esmagada. A carta tinha sido feita com muito cuidado... Toda ela escrita em preto e branco... Não tinha falado, né? A borboleta (toda preta) tinha sido impressa em uma dessas folhas normais de papel ofício.
Logo percebi que o autor daquela carta tinha tido um bocado de trabalho. Na parte branca da folha, estava escrito de preto; na parte do desenho, preto, estava escrito de branco. O envelope estava todo desenhado (percebi só muito depois, as linhas eram muito clarinhas), cheio de coraçõezinhos e estrelas... Ah, como eu adoro estrelas... Tudo tinha um perfume muito gostoso... O meu favorito...
E apesar de tudo isso, a imagem da borboleta esmagada, no meio do papel de carta, não me saia da cabeça. Como um escudo, uma muralha intransponível aos meus sentidos, ou aos seus sentimentos. Não dava... Era uma barreira...
Li a carta... Chorei porque não conseguia entender como palavras tão lindas poderiam vir acompanhadas de tanto descuido... "Uma borboleta ESMAGADA"... Não entendi nada...
Mas continuei... Escrevi de volta... Imprime a carta, como temos o costume de fazer... Amorigo secreto... Sem nome... Só quem sabe sou eu e você... Coloquei no meio um desenho que achei que combinava com sua borboleta... Uma faca rasgando-me o peito...
Carta seguinte, só duas frases:
"Como na outra carta, nossos corações estão juntos, explodindo.
Também tenho vontade de arrancá-lo do peito, tamanha a pressão e a dor."
E a assinatura de sempre:
"T.A."
Hoje assino: "T.T.A."
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