GOSTO DE PARTIR

"...queria muito mais. Queria seu próprio lugar naquele coração." -A father's promisse, Helen R. Myers Hoje vejo mensagens veladas no seu sorriso. Uma alegria que parece zombar da minha tristeza com palavras que não quero ouvir, e mesmo sabendo disso, nega-se a calar sua voz e teima em queimar com sons desgostosos seu partir. Haverá apenas tu e eu nessa estrada e nada além disso, esta, sem-fim, continua desde o rio da alma até o oceano do espírito vazio, sozinho por ser apenas eu e porque não se espera que haja a possibilidade de um tu fazer parte do meu eu, dos outros eus perdidos nesse conflito de deuses e monstros indistintos entre si. Chore pela criança morta antes de nascer e pelo idoso que não pode mais olhar para o céu sem se lembrar dos seus doces dias de primavera... Dias que não aconteceram... Só ilusão. E naquela janela para o mundo, através da qual vê-se a todo momento seus olhos partindo, ainda se apresenta vermelho de tanto sangue que foi derramado, um ser meio frio meio aquecido pelo terror de um desespero não-identificável, do qual fujo o mais rápido possível, causando a fadiga no extremo sul do meu corpo dilapidado. E nessa viagem, vai intrínseco meu desespero não-dito e a certeza de que qualquer possibilidade deveria ter um gosto melhor do que este que hoje se expande sobre a língua do mundo, minha-tua-nossa em terra, e menos doce do que aquele que faz com que o olhar (re)pouse nos umbrais da porta do ser.