Wednesday, May 24, 2006

JARDIM PERDIDO NO TEMPO

Volto ao jardim com a certeza de que não vou reconhecê-lo. Se estiver ressequido e morto ou, ainda, florido e verdejante, não o reconhecerei. E mesmo que o tempo tenha poupado o jardim de sua incessante batalha, e por isso, esse luga permaneça exatamente o mesmo de outrora... Ainda assim eu não serei capaz de reconhecê-lo, pos os olhos que o vêem hoje, já não são os mesmos de outros dias. Sobre estes e sobre o interior dessa casa, o tempo não cessou sua guerra, foi impiedoso como só ele sabe e pode ser. Ruiu paredes inteiras que precisei reconstruir. Devorou memórias quentes e frias as quais tive que, desesperadamente, tentar recuperar e me contentar com as ínfimas que consegui. Soprou amigos embora como se fossem folhas mortas; amareladas, avermelhadas, enferrujadas; sobre o solo do meu coração. Destruiu telhas de compaixão, junto com alicerces de ódio. Foi-se tudo, mas não em vão... Sou casa-alma mais forte, melhor. Espírito velho, mais novo do que as pétalas de um botão-em-flor. Minha única tristeza é aquele jardim: verdes folhas e flores vermelhas que não roubei para mim. Agora... Já é tarde demais... Aprendi a plantar minhas próprias flores.

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